Uso de hormônios na criação de aves é mito
Por Roberta Machado
Na busca de uma opção saudável para a ceia de final de ano, muitos consumidores se preocupam com um velho e conhecido boato a respeito da tradicional estrela das refeições brasileiras: afinal, as aves são mesmo criadas com hormônios? Os amantes da carne de frango, peru e outros produtos avícolas podem ficar sossegados, pois a relação não passa de um mito.
O uso de hormônios na produção de aves é proibido no Brasil desde 2004, de acordo com uma norma do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada em 2004. No entanto, uma década depois da proibição, a falácia continuava a ganhar força, levando o Mapa a permitir que as empresas do setor avícola desmentissem o rumor nas suas embalagens. Desde 2014, os produtores de carne de aves podem estampar em seus produtos a mensagem “sem uso de hormônio, como estabelece a legislação brasileira”.
A crença popular de que a carne de ave tem hormônios costuma ser associada à clara diferença entre os animais criados hoje e no passado. Atualmente, um frango atinge a fase apropriada para o abate em cerca de 40 dias, menos da metade do tempo que era necessário para a criação de uma ave há alguns anos. O hormônio, no entanto, não tem nada a ver com o rápido crescimento do animal.
A mudança, explica Ricardo Moreira Calil, integrante da Comissão Nacional de Alimentos do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNAL/CFMV), está relacionada ao melhoramento genético das espécies – uma prática que existe há séculos na criação de diversas espécies de animais. “Há um investimento genético para mudar o animal e aprimorá-lo do ponto de vista da produção econômica. Se formos comparar o gado Zebu de hoje com o original que chegou da Índia, por exemplo, quase não se identifica”, exemplifica o médico veterinário.
Foi por meio dessas técnicas que se produziram as variedades de frango mais robustas e ricas em carne magra, especialmente populares nas ceias de final de ano. Calil ressalta que a prática não representa qualquer risco à saúde, e que a carne de ave geneticamente melhorada é segura para o consumo. “Muitas pessoas promovem certos produtos como bons ou maus para a saúde, mas não existem evidências de que esses alimentos sejam prejudiciais”, aponta.
Origem
Calil explica que atualmente o Mapa faz um controle dos plantéis brasileiros para certificar que a carne de aves produzida por aqui é livre de hormônios. Isso também vale para outros produtos químicos, cujo uso é regulado para que não restem resíduos dos produtos na carne vendida ao consumidor.
Esses cuidados são exigidos para todos os produtores avícolas brasileiros, seja os que criam animais em larga escala, seja os modelos de produção considerados mais naturais. O que diferencia a carne orgânica e a caipira da chamada ave industrial são fatores como a origem do alimento consumido pelos animais e o espaço em que eles são criados, não o uso de hormônios.
“Somos o maior exportador de frango do mundo, e exportamos para países muito exigentes”, resume Ricardo. “O importante é que as pessoas comprem alimentos devidamente inspecionados. Se a carne é vendida sem inspeção, não é possível assegurar o que o animal comeu, se ele foi vacinado, ou como foi abatido. O importante é saber da origem do produto”, ensina o médico veterinário.
Saiba mais:
Leia a Instrução Normativa nº 17 do Mapa, que proíbe o uso de hormônios na criação de aves
Assessoria de Comunicação do CFMV (matéria acessada em 27/12/16)