Ensino semipresencial da Medicina Veterinária ameaça futuro do agronegócio brasileiro, diz CFMV
O avanço do ensino semipresencial em cursos da área agropecuária foi tema de audiência pública nesta terça-feira (7) na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O debate, requerido pelo deputado Messias Donato, reuniu representantes do governo, do setor educacional e de entidades de classe para discutir os impactos da modalidade na formação profissional, na segurança alimentar e na imagem do agronegócio brasileiro.
Durante a audiência, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Romulo Spinelli, destacou a posição firme do Conselho diante das tentativas de flexibilização da formação em Medicina Veterinária.
“Ensino sem presencialidade é um risco. O CFMV não quer 20%, nem 30%, nem 40% de ensino remoto: queremos 100% de formação presencial, porque uma hora a conta vai chegar — e não pode recair sobre os médicos-veterinários. Queremos bom senso do poder público. A nossa posição é firme e vamos brigar até o final para que as nossas reivindicações sejam atendidas”, afirmou Spinelli, que também preside a Comissão de Assuntos Institucionais do Conselho.
O CFMV foi representado ainda pelos médicos-veterinários Paulo Zunino e Andreey Teles, que defenderam a presencialidade total nos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia. Ambos reforçaram que a formação prática e ética é indispensável para garantir a qualidade dos serviços e a segurança da sociedade.
“A tecnologia é uma realidade, mas não pode ir contra as ferramentas pedagógicas que consolidam a formação e que se refletem diretamente na prática profissional”, afirmou Andreey Teles, representante do CFMV.
“A prática e o conhecimento são duas dimensões que precisam caminhar juntas, passo a passo. E, neste tempo, é preciso acrescentar uma terceira base para consolidar a formação profissional: a autoconfiança. O profissional de hoje precisa dominar o saber técnico, mas também acreditar em sua própria capacidade de aplicar esse conhecimento com segurança e responsabilidade”, complementou Andreey Teles, ao destacar o papel insubstituível do ensino presencial na construção dessa confiança.
“Nós compreendemos as mudanças que o MEC propõe, mas elas não são suficientes. A Medicina Veterinária exige presencialidade total. Basta um único profissional mal formado para comprometer o status sanitário do país. O CFMV bate forte nessa defesa e não recuará. Queremos atenção especial e a sociedade exige isso”, enfatizou Paulo Zunino, também representante do Conselho.
Ao abrir o debate, o deputado Messias Donato ressaltou que a preocupação com o tema tem mobilizado parlamentares em todo o país.
“Cada parlamentar foi provocado em seus estados a dialogar com os conselhos regionais sobre a portaria do MEC. Todos demonstraram preocupação e até estarrecimento com os rumos que o ensino a distância vem tomando na área da saúde e do agronegócio”, afirmou o parlamentar.
A representante do Ministério da Educação (MEC), Janaína Ma, diretora de Supervisão da Educação Superior, explicou que as áreas relacionadas ao agronegócio estão vedadas à oferta exclusiva na modalidade EAD, podendo funcionar apenas de forma presencial ou semipresencial.
“Sabemos que a política foi lançada, mas o debate continua. Um grupo de trabalho foi instituído com prazo de 120 dias para apresentar propostas e informações ao ministro da Educação”, informou.
Pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), Vanessa Negrini destacou o papel estratégico da Medicina Veterinária na proteção ambiental e nos compromissos internacionais do Brasil.
“No nosso entendimento, pela amplitude e competência da Medicina Veterinária em todas as esferas e pelos compromissos internacionais assumidos pelo país, esperamos que esse debate contribua para que a profissão tenha tratamento diferenciado, assim como ocorre com a Medicina Humana”, declarou.
O representante da Associação Nacional das Universidades Particulares, Juliano Gruppelli, reforçou a disposição do setor privado em participar da construção de critérios mais rígidos para a oferta de cursos.
“Nos colocamos à disposição para encontrar os melhores caminhos e estabelecer regras mais rígidas, que assegurem qualidade e responsabilidade na formação profissional”, afirmou.
Já o deputado Bruno Ganem, presidente da Frente Parlamentar Mista da Medicina Veterinária, destacou que a defesa do ensino presencial é também uma defesa da credibilidade internacional do país.
“O médico-veterinário gerencia riscos da agropecuária e garante a segurança alimentar. Essa discussão vai muito além da sala de aula: envolve a credibilidade dos nossos produtos de origem animal no exterior. Precisamos lutar com unhas e dentes para que a formação continue sendo sinônimo de excelência”, afirmou.
O deputado Domingos Sávio reforçou a necessidade de rigor e responsabilidade com a formação superior na área da saúde animal.
“Ensino sem o devido rigor presencial não existe. Há sérias consequências. Não dá para produzir profissionais em larga escala e, depois, pensar em como será lá na frente. Não se trata de economizar, vender e entregar diplomas como se fossem conteúdos de internet e fake news. Sou médico-veterinário e precisamos ser rigorosos na defesa dessa pauta”, declarou.
O CFMV reforçou que o tema segue em acompanhamento permanente pela presidência e pela Comissão de Assuntos Institucionais, que mantêm diálogo contínuo com o MEC e o Congresso Nacional para garantir a qualidade da formação profissional e a proteção da sociedade.
Também participaram os presidentes dos conselhos regionais: Rackel Barroso (CRMV-AP), Anilto Funez (CRMV-RO), Diogo Alves (CRMV-RJ), Nirley Formiga (CRMV-RN), Rafael Vieira (CRMV-GO), José Cecílio (CRMV-PB) Adolfo Sassaki (CRMV-PR) e Mauro Moreira (CRMV-RS), e Valney Corrêa (secretário-geral do CRMV-MT).
Assessoria CFMV